Por: Joelmir Beting
Se persistirem as condições atuais, dentro de apenas 20 anos, em 2030, metade da população do mundo - uma em cada duas pessoas - não conseguirá água suficiente para viver normalmente. Esta é a previsão de três novos estudos da OCDE, sobre efeitos da mudança climática e da megaexploração da água em todo o planeta. Vamos todos viver em situação de estresse hídrico - a conclusão geral.Famílias, indústria e agricultura disputarão cada vez mais os recursos de água, mas apenas uma pequena aprcela dos consumidores vem contribuindo para a manutenção dos ecossistemas.Por isso, a OCDE recomenda uma tarifação adequada da água fornecida, para incentivar governos e populações a evitar desperdícios, a poluir menos e a investir mais na infraestrutura de abastecimento de água. Os relatórios são divulgados nesta terça, 16 de março, na sede da OCDE em Paris. Um dos estudos, com o título O Preço da Água e os Serviços de Água Potável e de Saneamento, sugere que nos países mais desenvolvidos seja substituída a cobrança atual de consumo, do custo real para tarifas diferenciadas, premiando a poupança e uso racional e onerando desperdícios, de forma a remunerar custos de tratamento. Também se recomenda viabilizar o tratamento das águas residuais e reuso.As tarifas de água e esgoto variam consideravelmente entre os países da OCDE. Um banho chega a custar dez vezes mais na Dinamarca e na Escócia que no Méxcio e na irlanda, onde as famílias são isentas do pagamento de taxas diretas sobre a água. Famílias de baixa renda na Hungria e no México, por exemplo, têm até 4% de seu orçamento comprometido com as tarifas de água e esgoto.A falta de investimentos por muitos anos levou à situação atual em que, em muitos países do grupo, a coleta e tratamento de esgoto custa mais caro que o fornecimento de água. No Brasil, o costume é cobrar, pelo serviço de esgoto, o mesmo preço do consumo de água. Encontrar o equilíbrio entre esses fatores, levando ainda em consideração as questões ambientais e sociais, é, agora, o desafio maior.O segundo estudo da OCDE, Gestão Sustentável dos Recursos de Água no Setor Agrícola, parte do fato de que agricultura utiliza mais água que famílias e indústria somadas, ou seja, 70% do total, em termos globais. Diz que, nos últimos anos, o consumo de água no setor rural baixou na Europa do Leste, mas tem crescido nesta década na Coreia, Grécia, Nova Zelândia e Turquia, principalmente. Com há necessidade de duplicar a produção de alimentos até 2050, espera-se maior racionalização no uso de água pelos agricultores - além da cobrança dos serviços prestados e pelo uso de água de recursos naturais. Dessa forma, o maior consumidor arcará, além dos custos de exploração e fornecimento de água, também por parte dos investimentos em infraestrutura de distribuição. No documento, diz-se que nos países em que a água passou a ser cobrada dos agricultores, como Austrália, não houve redução na produção de alimentos e matérias primas e baixou à metade o consumo de água de irrigação. A OCDE recomenda que China e Índia, dois grandes consumidores de água no setor rural, reavaliem as técnicas de irrigação existentes. Recomenda-se que governos revejam algumas ações públicas de incentivo à agricultura, pois muitas delas acabam resultando em maior desperdício e poluição, principalmente as de aumento da eletrificação rural. Por isso, essas ações devem considerar, também, pontos para tornar a exploração rural menos poluidora e mais eficiente, pela adoção de estratégias de longo prazo, como a introdução de variedades culturais resistentes a secas e a prevenção de enchentes resultantes de mudanças climáticas.Nos países em desenvolvimento, aumentar os investimentos na infraestrutura de distribuição de água para consumo e tratamento da água servida. Em escala mundial, estima-se que um bilhão de pessoas não tem acessos a serviços de abastecimento de água potável e 2,6 bilhões moram em regiões sem redes de saneamento. Duplicando os investimentos anuais - de US$ 15 bi para US$ 30 bi - pode-se reduzir à metade ao número dessas pessoas e economizar gastos em saúde, com benefícios cinco a dez vezes superiores ao investimento inicial. A terceira publicação, Mecanismos de Financiamento Inovadores para o Setor de Água, mostra como novos recursos financeiros podem ser atraídos para reforçar investimentos no setor de água e saneamento. É citado o caso de uma região da Índia em que empresas de saneamento lançaram papéis no mercado de capitais como forma de financiamento barato destinado a projetos de adução de água e saneamento.