Sexto sentido, insight,
voz interior, feeling, toque divino,
faro profissional, intuição. Os nomes utilizados para a capacidade mental de
avaliar situações sem uma análise completa dos fatos são muitos. Mas você sabe
o que é e de onde vem a intuição?
Fiz esse questionamento para uma dezena de pessoas e, pode
acreditar, as respostas foram as mais variadas. Alguns falaram que ela funciona
como se alguém soprasse em nossos ouvidos o melhor caminho a seguir. Outros, no
entanto, acreditam que a intuição é criada de nosso próprio conhecimento, mas
que está no subconsciente. Tiveram ainda os que consideraram ser um simples
desejo pessoal de fazermos algo à nossa maneira.
Independente da variedade de respostas, em um contexto geral,
houve um consenso sobre o seu significado. A maioria das pessoas apontou que a
intuição é um pressentimento que não sai de nossa cabeça tão facilmente e
impulsiona a frase: "alguma coisa me diz para fazermos dessa forma".
Esse pressentimento, inclusive, apesar de não ser encontrado
facilmente nos livros de Administração (e muitas vezes ser ignorado), na
prática, faz parte da vida de milhares de profissionais e empreendedores.
Akio Morita da Sony, Mark Zuckerberg do Facebook e Ray Kroc do
McDonalds são alguns empresários conhecidos por construírem seus pilares
comerciais fundamentados em suas intuições e instintos. Em 1991, após a
explosão do walkman, Akio Morita
chegou a dizer que “a criatividade depende do pensamento humano, da intuição
espontânea e de um bocado de coragem”. Ignorando as recomendações de
conselheiros, Ray Kroc comprou a marca McDonalds dos irmãos McDonald: “eu não
era um jogador e não tinha esse tipo de dinheiro, mas meu instinto me
impulsionou”.
E não é preciso ser vidente ou um mega empreendedor de sucesso
para utilizar a intuição. De alguma forma, todos nós já experimentamos os
efeitos dela e convivemos com as consequências dessas escolhas.
Se você já teve que tomar uma decisão antes de reunir todas as
informações importantes por viver uma situação de tensão, ou teve a certeza de
que uma ideia daria certo embora não tivesse todos os dados para assegurar seu
potencial, ou até já pensou “parece tudo adequado, mas estou com um mau
pressentimento”, parabéns! A intuição também tem exercido um papel influente em
suas escolhas.
Intriga-me muito
Esse tema sempre intrigou pensadores e estudiosos. Platão, filósofo
grego que viveu entre 428 e 347 a.C., já dava indícios de tentar compreender
essa temática em sua chamada Teoria do Conhecimento. O fundador da psicologia
analítica, Carl Jung, relatava a capacidade inconsciente do ser humano de
perceber possibilidades. A cultura popular chinesa considera há séculos a
existência das forças mentais Ying e Yang que, entre um de seus significados,
simbolizam a “vanguarda intelectual da mente” (Yang) e a “retaguarda intuitiva
da mente” (Ying).
Nos últimos anos, a ciência tem dado passos significativos para entender
o que é, como funciona a intuição e, melhor, como utilizá-la a nosso favor. Uma
das principais descobertas foi a comprovação de que a espécie humana
desenvolveu dois sistemas de pensamento, que funcionam como se possuíssemos
duas mentes: a analítica (fundamento dos processos racionais) e a intuitiva
(responsável pelos sentimentos e comportamentos)
Uma boa definição para entender as duas mentes é do professor Eugene
Sadler-Smith, um dos principais pesquisadores sobre psicologia da intuição na
atualidade e autor do livro Mente intuitiva. “A mente analítica nos
permite avaliar e resolver problemas. São os processos de educação e
capacitação que trabalham basicamente com dados objetivos. Já a mente intuitiva
funciona como um avançado programa de simulação que orienta na hora de
decidirmos o que deve ou não ser feito, em quem devemos ou não confiar, e como
tomar decisões importantes”, afirma
Os gestores que apostam tudo na mente intuitiva costumam ser muito bons
em ter ideias, mas sem a ajuda de alguém para implementá-las, suas mentes
perdem uso prático. Já os gestores que utilizam apenas a mente analítica
costumam ser muito bons na realização de tarefas, porém, sem as ideias, suas
mentes não possuem tanta utilidade. Por isso, nessa hora, ter a sabedoria em
aliar as duas pode ser um bom caminho. Para Eugene Sadler-Smith, “é preciso
unir e desenvolver um modo complementar de pensar, estimulando a consciência e
a confiança nas nossas ilimitadas reservas de intuição ou capacidade de
análise”.
Entrevista
Em 2012, tive a oportunidade de entrevistar o Eugene sobre esse tema.
Abaixo, separei alguns dos pontos mais importantes desse contato.
Em que casos utilizamos mais a intuição?
Os administradores frequentemente usam a intuição em situações que são
complexas, dinâmicas e incertas, o que inclui negociações e entrevistas de
emprego. Muitas delas frequentemente envolvem julgamentos sociais, pois existe
um grande número de informações para serem assimiladas e processadas
rapidamente, com as quais a mente analítica não pode lidar e a mente intuitiva
pode.
Quando você recomenda acreditarmos em nossa intuição?
O mais importante é que o uso frequente da intuição só deve ser feito
quando os gestores têm a experiência (o que leva muitos anos para se
desenvolver) de saber em que casos basear suas intuições. Se eles não têm a
experiência para dar base à sua intuição, ela pode muito bem se tratar de uma
adivinhação. Dessa maneira, a ideia-chave é a “experiência intuitiva”.
Quem foram as personalidades mais intuitivas ao longo da história?
Existem muitos exemplos. Nos negócios, por exemplo, Steve Jobs e Richard
Branson. Mas, surpreendentemente, existem muitos cientistas que recorreram à
intuição, incluindo ganhadores do Prêmio Nobel. Eu acredito que o intuitivo
mais famoso é Einstein, que é conhecido por ter dito: “o intelecto tem pouco a
fazer no caminho para a descoberta. Então, chega um salto na consciência,
chame-o de intuição ou do quiser, e a solução vem e você não sabe como ou
porque”. Sem a imaginação e criatividade que vem com a intuição ele poderia não
ter descoberto a teoria da relatividade.
Por: Fabio Bandeira, www.administradores.com.br
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